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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

PRETERISMO, TEOLOGIA DE UM SÓ VERSÍCULO BÍBLICO.

PRETERISMO, TEOLOGIA DE UM SÓ VERSÍCULO BÍBLICO.



Não passará esta geração! (Mateus 24:34)


Algumas teologias são ruins. Outras, são pífias. Abaixo disso, está o preterismo, que pode ser definido como sendo a teologia de um versículo só. O preterismo é a única corrente escatológica conhecida pelo homem que se sustenta em apenas um único versículo, o qual é repetido, e repetido, e repetido, e repetido mais ainda até a exaustão pelos seus adeptos. Trata-se deste aqui:

“Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam” (Mateus 24:34)

O preterista típico repete este versículo como um mantra, coloca fixo em todas as páginas de seu site, o invoca para espantar os males, o escreve na testa para não se esquecer ao se olhar no espelho, deixa a Bíblia aberta neste versículo enquanto dorme, e o repete como um feitiço de Harry Potter quando está sendo acuado em um debate. É a teologia de um versículo só. A partir deste versículo, eles fazem todo um revisionismo histórico em todos os dados escatológicos da Bíblia inteira, para se alinhar à sua nova doutrina do único versículo.

Eu não vejo problemas em seguir doutrinas por um versículo, desde que este versículo seja totalmente irrefutável, absolutamente claro e sem dar margem nenhuma para outras interpretações. Tem que ser um verso imbatível, infalível e invencível. É uma pena que este não é o caso de Mateus 24:34, que, embora seja tão repetido pelos preteristas, está muito longe de provar de forma cabal sua tese. Em primeiro lugar, porque se “esta geração” é uma referência àquela geração presente na época de Jesus, então teríamos que presumir que Jesus já voltou. Note que ele disse que aquela geração não passaria até que...

“...todas essas coisas aconteçam”

Todas. Jesus não disse que “algumas” daquelas coisas que ele havia dito não passariam, mas sim “todas”. “Todas” é todas e ponto. Tudo aquilo que Jesus disse até ali se cumpriria “naquela” geração. Mas entre essas coisas, também estava a sua própria segunda vinda!

Mateus 24
29 Imediatamente após a tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados’.
30 Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória.
31 E ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.
32 Aprendam a lição da figueira: quando seus ramos se renovam e suas folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está próximo.
33 Assim também, quando virem todas estas coisas, saibam que ele está próximo, às portas.
34 Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam.

Qualquer leitor minimamente honesto percebe que o “todas” do verso 34 abrange também: (a) a volta gloriosa de Jesus nas nuvens do céu; (b) o arrebatamento dos salvos. Jesus, ao longo de todo o capítulo, cita eventos tribulacionais, então os associa à Sua volta gloriosa que ocorreria “imediatamente após a tribulação” (v.29) e não milênios mais tarde, sendo que todas aquelas coisas ocorreriam “naquela” geração. Portanto, se Jesus estava falando daquela presente geração, ele teria que voltar enquanto aquelas pessoas ainda estavam vivas. Ele voltou? Não.

Os preteristas completos entendem esse problema, e por isso são mais honestos ao dizer que o “todas” do verso 34 abrange a volta de Jesus também. Mas como Jesus não voltou em 70 d.C, eles preferem alegorizar a volta de Jesus do que admitir que o preterismo é falso. Não precisamos perder tempo com isso, porque isso bate de frente com o que todos os cristãos creram em todas as épocas. Tanto a Bíblia quanto os documentos históricos mais primitivos (ex: Didaquê, Credo Primitivo, Pais da Igreja, etc) criam na volta literal de Jesus no final dos tempos. Basta mostrar que, se o preterismo for verdadeiro, ele nos levaria a crer que Jesus já voltou, e isso é falso pois contraria toda a Bíblia e a história do Cristianismo. Portanto, a interpretação preterista do verso 34 é inválida.

Mas este não é o único problema lançado para os preteristas, que tem que fazer verdadeiros malabarismos para dizer que o “todas” do verso 34 se refere não a todas as coisas que Jesus tinha dito até ali naquela ocasião, mas apenas a “algumas” delas (que são escolhidas arbitrariamente, de acordo com a imaginação fértil do preterista). Há um problema maior, que é referente ao tempo de uma geração. Os preteristas em geral concordam conosco que uma geração biblicamente é o tanto de tempo relativo ao período de 40 anos (Hb.10:3; Nm.32:13). Esta é uma das únicas coisas que nós concordamos. Durante o período de 40 anos, está incluída “aquela geração”. Dali em diante, já é considerada a próxima geração, e não mais aquela presente.

A bomba no colo dos preteristas reside justamente no fato de que do discurso de Jesus até a destruição do templo dá mais de quarenta anos, ou seja, já abrange a geração seguinte, e não mais a presente! Infelizmente, os preteristas fazem seus cálculos baseados em um erro de calendário, que resultou na crendice popular de que Jesus nasceu no ano 1 d.C. Se Jesus tivesse nascido no ano um, ele teria dito aquilo em 34 d.C, e deste tempo até o fim da destruição dos judeus (em 72 d.C) daria 38 anos, ou seja, estaria dentro do período de uma geração. Certo autor de site obsceno, por exemplo, escreveu:



O mesmo preterista desequilibrado e obsceno afirmou também que os fatos históricos descritos por Jesus em Mateus 24 só se consumaram em 72 d.C:



O problema é que hoje sabemos que o calendário foi mudado várias vezes e que Jesus não nasceu no ano um. Dadas as devidas correções no calendário, os historiadores unanimemente concordam que Jesus, na verdade, nasceu em algum ano entre 4 a.C e 8 a.C. Refazendo as contas tendo agora em mente a data real do nascimento de Jesus, temos essas cinco possibilidades:

Probabilidades de nascimento
Proclamação de Mateus 24
Tempo até o final da “tribulação” preterista
4 a.C
30 d.C
42 anos
5 a.C
29 d.C
43 anos
6 a.C
28 d.C
44 anos
7 a.C
27 d.C
45 anos
8 a.C
26 d.C
46 anos

Como vemos, em qualquer uma das cinco probabilidades do ano verdadeiro do nascimento de Jesus, os quarenta anos de uma geração não batem. Da teoria mais próxima para a mais distante, temos de dois a seis anos de diferença, estourando o tempo limite para ser definido como dentro do período de tempo respectivo a uma geração. Em nenhuma das probabilidades o tempo se encaixa dentro daquilo que é considerado uma geração. Em absolutamente todas elas temos um período de tempo que estoura os quarenta anos e já passa a fazer parte da geração seguinte, ou seja, do início da segunda geração e não mais daquela geração presente. Portanto, se a consumação de todos os eventos tribulacionais se deu em 72 d.C, Jesus mentiu ao dizer que ocorreria dentro de apenas uma geração (40 anos). É o que deveríamos inferir, se o preterismo fosse verdadeiro.

Mas se Jesus não estava falando daquela presente geração, do que ele estaria falando? Há pelo menos duas boas possibilidades que se encaixam dentro da profecia bíblica sem ferir as regras básicas da exegese. Em primeiro lugar, é de consenso unânime entre os léxicos do grego que a palavra aqui traduzida por “geração” (genea) também pode significar “raça” ou “nação”. A maior, melhor e mais conhecida concordância em grego já escrita pelo homem, a famosa Concordância de Strong, revela isso ao dizer:



O léxico da mesma concordância afirma:



O NAS Exhaustive Concordance também traz “raça” como um dos significados de genea:



O Thayler’s Greek Lexicon também:



Uma nota especial fica por conta do texto de Mateus 23:36, que o original grego traz genea:



Como a versão católica da Bíblia “Ave Maria” traduziu este texto? Assim:



Como vemos, é absolutamente certo que “raça” é um dos significados possíveis do termo, o que é confirmado por todos os léxicos do grego e também por traduções católicas. Se este é o caso também em Mateus 24:34, o que Jesus estava dizendo é que aquela raça (Israel) não passaria até que todas aquelas coisas ocorressem (no fim dos tempos). Isso implica na existência perpétua de Israel, algo que foi confirmado também por Paulo (Rm.11:26). Curiosamente, Israel tem sido a nação mais perseguida por Satanás desde que o homem existe na terra. Nenhuma raça é tão perseguida e discriminada como a judaica. Por diversas vezes Satanás buscou a completa eliminação dos judeus, tendo o ápice com o holocausto nazista, mas sempre fracassou, porque a profecia não pode falhar.

Por isso, Norman Geisler e Thomas Howe oportunamente comentam:

“’Geração’ em grego (genea) pode significar ‘raça’. Nessa situação específica, a afirmação de Jesus poderia significar que a raça judia não passaria até que todas as coisas se cumprissem. Por haver muitas promessas a Israel, inclusive a da herança eterna da terra da Palestina (Gn 12; 14-15; 17) e do reino Davídico (2 Sm 7), Jesus poderia estar se referindo à preservação da nação de Israel por Deus, de forma a cumprir com as promessas feitas a Israel”[1]

Mesmo que genea em Mateus 24:34 tenha o significado de “geração” propriamente dita, isso ainda assim não implicaria que a tribulação ocorreu naquela geração dos dias de Jesus. A razão para isso é simples: “essa geração” também pode ser perfeitamente entendida como sendo uma referência à geração que verá os eventos tribulacionais que Jesus profetizou. Geisler e Howe também comentam sobre isso nas seguintes palavras:

“Nesse caso, a palavra se referiria às pessoas que estarão vivas quando essas coisas acontecerem no futuro. Em outras palavras, a geração que estiver viva quando essas coisas começarem a acontecer (o abominável da desolação [v. 15], a grande tributação, tal como nunca houve antes [v. 21], o sinal do Filho do Homem no céu [v. 30] etc.) permanecerá viva até quando esses juízos se completarem. Portanto, já que comumente se crê que, no fim dos tempos, a tribulação terá a duração de sete anos (Dn 9:27; cf. Ap 11:2), Jesus estaria dizendo que ‘esta geração’ que estiver vivendo a tribulação ainda estará viva no seu final”[2]

Em outras palavras, Jesus profetiza os eventos futuros da grande tribulação, da sua volta, do arrebatamento e ressurreição, e então diz que “essa geração” (ou seja, a geração que passará por estes acontecimentos) não passará até que tudo aquilo que concretize. Neste caso sim temos um período de tempo que se encaixa perfeitamente dentro do período de uma geração, uma vez que é bem conhecido que a grande tribulação durará sete anos.

São vários os exemplos bíblicos onde colocações semelhantes, que à primeira vista parecem se aplicar à geração presente, mas que de fato se aplicam a uma geração futura. Alon Franco, em um artigo intitulado "Para qual geração Jesus falou?", nos dá claros exemplos disso na Bíblia. O mais clássico está na grande comissão de Mateus 28:19-20, quando Jesus diz:

“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até a consumação dos séculos” (Mateus 28:19-20)

Jesus estava falando com seus discípulos, e então diz que estaria sempre “com vocês”, até a “consumação dos séculos”. Mas os discípulos não viveram até a consumação dos séculos! Obviamente, embora Jesus estivesse falando com os discípulos, o que ele dizia se aplicava por extensão a todas as gerações de cristãos, incluindo especialmente aquela que estará viva quando ocorrer a “consumação dos séculos”. Jesus não estava indicando que os discípulos estariam vivos até a consumação dos séculos, porque o que ele dizia aos discípulos tinha uma extensão bem maior, abrangendo também as gerações futuras.

Outro exemplo citado por Alon está em Deuteronômio 18:14-19, onde Deus diz:

“O Senhor teu Deus te levantará um profeta do meio de vós, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis; Conforme a tudo o que pediste ao Senhor teu Deus em Horebe, no dia da assembléia, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor teu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra. Então o Senhor me disse: Falaram bem naquilo que disseram. Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. E será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele” (Deuteronômio 18:14-19)

Deus diz que surgiria um profeta “do meio de vós”, e ainda ressalta que esse profeta surgiria “do meio de seus irmãos”. Como se isso não fosse suficiente, diz ainda que “ele lhes falará”. Se você estivesse naquela época ouvindo isso, obviamente pensaria que o profeta em questão surgiria naquela mesma época, pois os pronomes “vós”, “seus” e “lhes” indicam isso. No entanto, apesar do texto dizer que “o profeta falará a vocês”, isso não se aplicou naquela geração presente (que ouvia o discurso), mas milênios mais tarde (o profeta referido é Jesus). A declaração é dita a uma geração, mas se aplica a uma geração futura, ou seja, aquela que estaria viva quando Jesus viesse ao mundo.

Da mesma forma, em Mateus 24 Jesus usa os mesmos pronomes usados em Deuteronômio 18 (“vós”, “seus”, “lhes”, etc), mas visando uma geração futura de crentes, ou seja, aquela que estará viva por ocasião da grande tribulação. E essa geração, isto é, a geração futura dos crentes vivos por ocasião da tribulação, não passará até que todos os eventos tribulacionais ocorram. Isso retira do texto toda e qualquer contradição, destroi o preterismo e o reduz às ruínas – afinal, eles não tem um único texto fora de Mateus 24:34 para fundamentar suas teses. Este é o grande problema em se fazer teologia de um versículo só.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

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