PORQUE SOMOS FUTURISTAS
Neste estudo do Projeto Ômega, tentaremos explicar porque somos futuristas, o que é futurismo e o que são as outras correntes opostas ao futurismo.
Como é característica nossa, iremos evitar terminologias de difícil compreensão, com o objetivo de apresentar a você, leitor de nosso site, um estudo sobre as principais posições a respeito das questões escatológicas numa linguagem simples e objetiva.
Destacamos também que todas as escolas interpretativas têm o seu valor e fazem com que o estudo das profecias seja mais profundo. Antes de apresentar as razões pelas quais somos futuristas, vamos detalhar as principais escolas que se opõem ao futurismo.
IDEALISMO
O modelo idealista de interpretação julga que o livro de Apocalipse é um compendio de ensinamentos em forma de figuras.
Para o idealismo, a revelação apocalíptica não busca mostrar eventos futuros concretos, mas sim mostrar verdades espirituais que servem para qualquer época e qualquer pessoa.
REFUTAÇÃO AO IDEALISMO
Nossa principal razão para descartar o idealismo encontra-se na leitura de outros livros da Bíblia.
Se esses outros livros mostram de forma tão clara e inequívoca os princípios morais e espirituais que devem guiar a vida do cristão, entendíveis até por uma criança, por que encerrar esses mesmos princípios em alegorias e simbolismos que requerem grande esforço interpretativo?
Isso sem sequer considerar que tais simbologias e alegorias quase nunca têm uma interpretação aceita de forma unânime. Uma outra forte razão para rejeitar o idealismo é referente à literalidade da volta de Jesus Cristo.
Ora, se o clímax da revelação apocalíptica é a volta do Senhor e todas as maravilhosas consequências que se seguem a ela, não há como idealizar simbolicamente fatos relacionados a esse evento, já que o regresso de Cristo será um fato histórico e não meramente uma ideia abstrata sobre a vitória do bem sobre o mal.
O Apocalipse nos mostra Jesus voltando, derrotando e julgando o anticristo e o falso profeta (Apocalipse 19:11-21) e instaurando o Milênio.
Se partirmos da premissa que a volta do Senhor será um fato literal, então todos os principais eventos anteriores, relacionados a essa volta, deverão ser entendidos como literais.
Por exemplo, quando o Apocalipse mostra a besta reunindo os reis da Terra para a batalha do Armagedom, se entendemos a volta do Salvador como literal, então teremos que entender como literal também essa reunião de exércitos no Armagedom, já que o livro apocalíptico mostra o Ungido derrotando-os em Sua volta (Apocalipse 19:20-21), o que é corroborado pelo apóstolo Paulo em II Tessalonicenses 2:8.
Quando comparamos a literalidade das profecias escatológicas contidas nos outros livros da Bíblia com a revelação apocalíptica, vemos que o Apocalipse é o complemento final de todas essas profecias anteriores e não um compêndio de ideais abstratos separados da literalidade dos fatos e de um momento histórico determinado.
PRETERISMO
Talvez este seja o modelo mais aceito pelos eruditos que estudam o Apocalipse e as outras profecias escatológicas. Exegetas brilhantes, como Beckwith, Swete, Ramsay, Simcox, Moses Stuart, e F. F. Bruce, defendem o preterismo.
Esses escritores entendem que as principais profecias do livro do Apocalipse cumpriram-se na destruição de Jerusalém (em 70 AD) e na queda do Império Romano.
A escatologia católica romana em grande parte é preterista, defendendo, entre outras coisas, que a besta de Apocalipse 13:1-12 se refere a Nero, sendo um fato já cumprido. Existem também algumas ramificações do preterismo, como o preterismo parcial.
Em nosso COMENTÁRIO 06, debatemos sobre um artigo preterista parcial. Vale a pena ler, para ter uma ideia mais detalhada de alguns princípios preteristas.
Sem dúvidas, reconhecemos que o preterismo baseia-se em muitos argumentos sólidos. Por exemplo, os preteristas afirmam que o livro de Apocalipse fazia todo sentido para a experiência que os nossos irmãos primitivos viviam no final do século I.
Em outras palavras, o Apocalipse foi escrito, dizem os preteristas, principalmente para aqueles irmãos do século I. Para isso, usam como base algumas passagens, como Mateus 16:28, Mateus 10:23, Marcos 13:30, Hebreus 1:1-2, I Corintios 10:11-12 e I Timóteo 4:1-3, entre outras.
REFUTAÇÃO AO PRETERISMO
Uma das principais razões para rejeitar o preterismo é o fato de que ele deixa a Igreja ao longo dos séculos sem nenhuma direção específica ou revelação sobre o que há de vir.
É difícil conceber que a Igreja primitiva tenha recebido revelações tão específicas sobre seus dias, enquanto que a Igreja dos últimos dias, composta por aqueles que estarão vivos nos momentos que antecedem a volta de Cristo e durante a grande tribulação, fique sem essa revelação. Veja o que o renomado teólogo Milligan declara:
"...Há uma progressão no livro que é somente detida com o advento final do Juiz de toda a Terra; e nenhum sistema justo de interpretação nos permitirá considerar as diferentes pragas dos selos, trombetas, e taças como simbólicos somente de guerras que o Vidente havia contemplado em seus princípios, e que sabia que terminariam com a destruição de Jerusalém e Roma.
Contra a ideia de que João estava limitado aos acontecimentos de seu próprio tempo, o tom e espírito do livro são um contínuo protesto.
Nem se pode alegar que ele combine isso com o que se daria por fim, deixando, por razões inexplicadas da parte dele, um longo intervalo de tempo sem notícia. Não há evidência de um intervalo.
Os relâmpagos e trovões se desencadeiam em sucessão próxima desde o princípio até o fim do livro. Julgado mesmo por seu caráter geral, o Apocalipse não pode ser interpretado segundo esse sistema moderno..." (W. Milligan, Lectures, págs. 141, 142).
Outra forte razão para não adotar o preterismo, surge quando comparamos entre sí as passagens escatológicas, dispostas nos livros da Palavra.
Por exemplo, o Senhor Jesus, ao mostrar aos seus discípulos os principais eventos que antecederiam seu glorioso regresso, afirmou que esse regresso seria concretizado "logo após a aflição (tribulação) daqueles dias" (Mateus 24:29).
Antes de revelar isso, o Mestre já tinha mostrado aos discípulos que aquela tribulação que antecederia imediatamente seu regresso seria a maior tribulação de todos os tempos (Mateus 24:21).
Ou seja, a grande tribulação descrita no Apocalipse já fora citada pelo Senhor Jesus como um evento que antecederia imediatamente a Sua volta.
São eventos relacionados entre si pelo tempo e que ocorrerão no futuro. Se a grande tribulação já ocorreu, então a volta do Senhor também, o que não encontra respaldo bíblico e histórico. Se a volta de Cristo ainda ocorrerá, e cremos nisso, então a grande tribulação ainda ocorrerá também!
Da mesma forma, as bestas apocalípticas (o anticristo e o falso profeta) serão derrotadas por Cristo em Sua volta, o que transporta para o futuro grande parte dos eventos relatados no Apocalipse, considerando que tais bestas sejam homens e não sistemas.
A cadeia cronológica dos eventos profetizados na Palavra desautorizam em grande parte o preterismo, pois ele ignora o futuro.
Como disse alguém: "O preterista tem uma interpretação que possui um firme pedestal, mas que não dispõe de uma escultura acabada para nela ser firmada"
Alguns preteristas utilizam argumentos escriturísticos, como a passagem de Apocalipse 1:3, onde está escrito que "o tempo está próximo".
Então, de acordo com o raciocínio preterista, o fato de estar escrito logo no início do Apocalipse que "o tempo está próximo", quer dizer que todo o conteúdo das revelações recebidas deve ser entendido como acontecimentos que tiveram lugar nos primeiros séculos e não se aplicam aos tempos do fim. No entanto, nos parece muito limitado pensar assim e até mesmo descabido.
Acreditamos que as revelações apocalípticas devem ser entendidas em conjunto com todas as revelações das Escrituras.
Afinal, cremos que o Espírito inspirador é o mesmo... Na primeira carta de João, ele diz aos seus destinatários, pessoas que estavam vivas no século I, que "é já a última hora" (I João 2:18).
Estaria João equivocado? Cremos que não! Ao mesmo tempo, Pedro lembra em sua segunda carta que "um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia" (II Pedro 3:8).
Então, fica patente que, do ponto de vista profético, o tempo assume uma proporção muito maior que o nosso raciocínio humano poderia determinar.
Se consideramos a historia da criação, do próprio planeta Terra e da humanidade, então fica mais fácil entender que quando se lê que "o tempo está próximo", isso está sendo dito sob essa perspectiva maior e não apenas sob uma perspectiva imediatista de alguém que lesse isso no século I.
Da mesma forma, no final do Apocalipse, encontramos o próprio Salvador enviando a mensagem de que "cedo vem" (Apocalipse 22:12).
Então, quem deseja tomar o termo "o tempo está próximo" como uma prova cabal de que o Apocalipse se refere a uma realidade dos primeiros séculos e não futura, terá que concordar também que o Mestre já deve ter retornado logo naqueles dias...
Isso mostra como é temerário afirmar que o Apocalipse é um livro que já teve seu cumprimento.
O preterismo também traz outros perigos implícitos. O maior deles, em nossa opinião, é o de deixar aqueles que seguem tal modelo totalmente despreparados para enfrentar os eventos tribulacionais que se aproximam e para rejeitar o sistema maligno que se levantará imediatamente antes do glorioso regresso de Cristo.
HISTORICISMO
O historicismo é o método de interpretação das profecias que declara que o livro do Apocalipse e as outras passagens escatológicas da Bíblia formam uma narrativa histórica dos eventos proféticos da igreja e do mundo.
Para o historicismo, os principais eventos da história já estão descritos nas profecias de uma forma simbólica. Entre os historicistas mais conhecidos podemos citar Begel, Mede, Newton, Elliott, Ellen White e Guinness.
O livro Prophetic Faith of Our Fathers [A fé profética de nossos pais], do autor L. E. Froom, é uma excelente leitura para quem deseja saber mais sobre o historicismo. Atualmente, apenas poucos eruditos protestantes são conhecidos como historicistas.
REFUTAÇÃO AO HISTORICISMO
1. ISOLAMENTO DOS IRMÃOS PRIMITIVOS
Se atentarmos bem para as principais premissas do historicismo, veremos que a Igreja primitiva fica fora de quase a totalidade do cumprimento das profecias.
Ao atrelar o cumprimento das profecias aos principais acontecimentos da Historia no período posterior ao Império Romano, o historicismo parece esquecer que as cartas apocalípticas foram dirigidas à igrejas da Ásia Menor no século e que, para nossos irmãos que congregavam nessas igrejas, as cartas deveriam fazer sentido e suas profecias poderiam ser compreendidas.
Geralmente, o historicismo faz referências a Napoleão, às guerras balcânicas, à grande guerra europeia de 1914-1918, ao ex-imperador germânico Guilherme, a uma chuva de meteoritos ocorrida em 13 de novembro de 1833, à Reforma, ao Império Otomano, ao papado, a Hitler, e Mussolini, etc, etc.
Porém, que importância prática teria isso para nossos irmãos do século I, os quais estavam vivendo sob intensa perseguição e tribulação? Que elementos tinham eles para entender que 1.260 dias, por exemplo, são 1.260 anos, tal como defende o historicismo?
Obviamente, muitos eventos profetizados no Apocalipse foram profetizados para depois do século I.
Porém, cremos que, em termos gerais, qualquer irmão primitivo que tivesse acesso às cartas apocalípticas, usando a literalidade na interpretação, estava apto a entender o sentido global das profecias.
O excessivo simbolismo usado pelo historicismo, tira dos irmãos primitivos toda participação na compreensão do Apocalipse. Essa é a primeira razão pela qual cremos que o historicismo deve ser rejeitado.
2. USO DA HISTÓRIA EM DETRIMENTO DA BÍBLIA
Até mesmo os historicistas mais renomados concordarão que, para seguir o método historicista, a pessoa precisa ter um razoável conhecimento histórico. É como se a Bíblia, por si só, não fosse suficiente para indicar o verdadeiro cumprimento das profecias.
Ou seja, o historicismo implicitamente sustenta que, um cristão que não tiver acesso a referências históricas, algo muito comum nos séculos anteriores ao século XX, ficaria à margem da compreensão das profecias.
3. A QUESTÃO DA SOBERANIA DE DEUS
O Senhor Jesus, em Seu sermão profético, declarou que o evangelho do reino seria pregado a todas as nações, em testemunho, e então viria o fim.
Já o apóstolo Pedro em sua segunda carta mostra que o Senhor não retarda a Sua vinda, mas é longânimo para conosco, não querendo que ninguém se perca, mas que todos venham a arrepender-se (II Pedro 3:9).
É muito interessante observar que as profecias contidas no livro de Apocalipse indicam uma grande proximidade: "coisas que em breve devem acontecer" (Apocalipse 1:1; 22:6), "o tempo está próximo" (Apocalipse 1:3), e "venho sem demora" (Apocalipse 3:11; 22:7; 12, 29).
Outras referências sobre a proximidade do cumprimento se encontram em Apocalipse 6:11, 12:2 e 17:10.
Em tudo isso, podemos ver a soberania divina sobre o cumprimento dos tempos. O cumprimento das profecias não depende de eventos ou personagens históricos, mas da ação evangelizadora da Igreja, através do Espírito Santo e da própria vontade soberana do Criador e a Sua misericórdia para com a humanidade.
É óbvio que existem sinais específicos que ocorrerão ou estão ocorrendo antes da volta de Cristo, de acordo com o que Ele mesmo profetizou (Mateus 24:1-33).
Também é claro que a onisciência divina já sabe o que ocorrerá e quando ocorrerá, revelando alguns desses eventos na Palavra para o nosso conhecimento. Porém, o cumprimento profético depende exclusivamente da soberania divina.
Se fizermos uma pesquisa acurada sobre aqueles que, durante a história, elaboraram cálculos para determinar em que ano o Senhor regressaria ou quando será o fim dos tempos, veremos que eles, em quase sua totalidade, eram historicistas.
Chegaram a suas conclusões equivocadas, usando formas de cálculo historicistas, que transformam 1260 dias em 1260 anos, 2300 tardes e manhãs em 2300 anos, etc. O ilustre escritor M.C. Tenney resume bem a refutação feita ao historicismo. Veja:
"Há várias objeções a uma interpretação do Apocalipse segundo um ponto de vista completamente historicista.
Primeiramente, a exata identificação dos eventos da história com sucessivos símbolos, nunca foi finalmente empreendida, mesmo após os acontecimentos terem-se dado.
É razoável supor que durante o lapso de 1.900 anos, pelo menos uma porção das predições teriam tido cumprimento.
Se tivessem de ter algum valor para o leitor do Apocalipse como uma indicação de seu lugar dentro do processo histórico, deviam ser identificáveis com certeza. Tal, contudo, parece não ser o caso.
Os pontos de interpretação sobre o qual a maioria dos intérpretes doutrinários concorda que podem ser interpretados como tendências tanto quanto eventos. Uma vez que as tendências podem ser evidentes em qualquer período da história, tais profecias não apontam a nenhuma época.
Em segundo lugar, os intérpretes históricos não têm explicado satisfatoriamente porque uma profecia geral deva confinar-se às fortunas do Império Romano ocidental.
A interpretação histórica destaca principalmente o desenvolvimento da igreja na Europa ocidental; pouca atenção dá ao Oriente.
Contudo, nos primeiros séculos da era cristã a igreja aumentou tremendamente no Oriente, e difundiu-se até alcançar a Índia e China, embora não tenha conseguido uma base permanente em todas as regiões desses países. Se um método contínuo e histórico deva ser seguido, deve ter um escopo mais amplo.
Em terceiro lugar, se o método contínuo e histórico for válido, suas predições teriam sido suficientemente claras desde o princípio para dar ao leitor alguma pista do que significavam.
Se o fogo e a saraiva da primeira trombeta (Apocalipse 8:7) realmente se referiam às invasões dos godos, é difícil ver como qualquer cristão do primeiro século poderia ter entendido a predição de tal modo a ter qualquer valor de sua parte para sua reflexão" (M. C. Tenney, Revelation, pp. 138, 139).
Vemos, então, que o historicismo fica muito atrelado ao subjetivismo, gerando diferentes interpretações até mesmo entre aqueles que se declaram historicistas.
A verdade é que, com uma boa dose de imaginação e inteligência, é possível atrelar o cumprimento das profecias apocalípticas a um sem número de eventos históricos, abrindo caminho para as mais variadas interpretações historicistas. Não nos parece ser o método mais viável para entender as profecias apocalípticas.
PORQUE SOMOS FUTURISTAS
Cremos que o futurismo é a maneira mais equilibrada de entender as profecias bíblicas e foge das posições extremas do preterismo e do historicismo.
O futurismo não ignora as implicações escatológicas da Igreja primitiva, como o faz o historicismo, nem confina o cumprimento principal das profecias escatológicas ao século I, como o faz o preterismo.
O futurismo acredita que o livro de Apocalipse, com a possível exceção dos três primeiros capítulos, aplica-se totalmente ao futuro. Isso implica numa futura tribulação final da Igreja, a qual antecederá a volta do Senhor.
Porém, ao mesmo tempo, o futurismo defende concretizações proféticas durante a história, expostas principalmente em outros livros fora do Apocalipse, como é o caso, por exemplo, do princípio de dores e da apostasia.
J. H. Todd resume bem o ideal futurista:
"Não devemos, destarte, procurar o cumprimento de suas predições nem nas primeiras perseguições e heresias da igreja nem na longa série de séculos desde a primeira pregação do Evangelho até agora, mas nos eventos que devem imediatamente preceder, acompanhar e seguir-se ao Segundo Advento de nosso Senhor e Salvador" (J. H. Todd, Six Discourses on the Apocalypse, quoted by W. Milligan, Lectures, p. 135).
FUTURISMO E LITERALISMO
O futurismo baseia-se fortemente no literalismo. A "regra de ouro" seguida pelos literalistas é: "todas as declarações proféticas devem ser interpretadas literalmente a menos que a evidência contextual, ou o bom senso, tornem esse procedimento impossível".
Os futuristas podem ser dispensacionalistas ou não dispensacionalistas. O dispensacionalismo coloca a última semana de Daniel imediatamente antes da volta gloriosa do Senhor, enquanto que o não dispensacionalismo não vê razões para essa divisão.
Para uma maior compreensão sobre esse assunto e a nossa posição a respeito, clique AQUI.
A principal crítica feita ao futurismo é o de tornar as profecias apocalípticas algo de pouco valor prático para a maioria dos cristãos que têm vivido no decorrer da história e que não experimentarão aqui na Terra os anos que antecederão a volta do Mestre.
De acordo com os críticos do futurismo, é como se a maioria dos cristãos fossem ignorados ao longo da história e as profecias estivessem dirigidas apenas aos cristãos dos últimos tempos.
Porém, essa argumentação não nos parece sólida quando a confrontamos com o contexto profético descrito nas Escrituras.
Fica a clara constatação nas passagens escatológicas que o tempo do fim poderá chegar a qualquer momento e que cada geração necessita preparar-se para isso, quer ocorra em seus dias ou não. A questão central para entender esse ponto está, em nossa opinião, na passagem de Mateus 24:14:
"E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim"
Vemos que o Salvador estabelece como condição, para que o fim realmente chegue, a pregação do evangelho do reino "a todas as nações em testemunho".
Quando comparamos esse princípio ao ensinamento de Pedro em II Pedro 3:9, fica claro que o cumprimento dos últimos eventos está subordinado à pregação das boas novas, fruto da graça e misericórdia do Pai.
É óbvio que todos os sinais profetizados na Palavra e que antecedem a gloriosa volta de Cristo ocorrerão em seu devido momento e nós os conhecemos porque a onisciência divina assim nos quis revelar em Sua Palavra, para que soubéssemos quando estaríamos na iminência do desfecho final.
Consequentemente, cada geração de servos do Eterno tem uma grande responsabilidade e interação com as profecias do fim.
Por exemplo, a Igreja nas primeiras décadas de existência alcançou quase a totalidade do Império Romano em sua extensão territorial. Podemos imaginar o que ocorreria se o mesmo fervor evangelístico e a mesma pureza espiritual tivesse perdurado nos séculos seguintes...
Em poucos séculos todas as nações teriam conhecido o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo (não a imitação dele, como tem sido tão vastamente ensinada).
Porém, a apostasia generalizada que começou a penetrar nas igrejas a partir do século III impediu que esse fato ocorresse.
Por essa razão, cremos que o argumento levantado contra o futurismo, de que o mesmo coloca os cristãos que viveram durante a história à margem das profecias escatológicas não tem uma base sólida.
A pregação do evangelho é uma responsabilidade da Igreja em toda a história e se o evangelho não chegou ainda a todas as nações é algo que compete a nós como Igreja.
O TESTEMUNHO PRIMITIVO
Talvez a maior de todas as razões para que adotemos o futurismo seja a postura de nossos irmãos dos primeiros séculos. Considerar qual era o pensamento da Igreja primitiva é uma constante dentro do Projeto Ômega.
Saber qual era o entendimento que os irmãos primitivos tinham das Escrituras e, principalmente, das profecias, nos faz ter uma clara ideia daquilo que os apóstolos e o Senhor Jesus lhes ensinaram.
O principal motivo para que atrelemos nossa postura à dos irmãos dos primeiros séculos é que eles tiveram contato direto com os apóstolos ou com aqueles que foram discipulados pelos apóstolos, os quais, por sua vez, tiveram contato direto com o Messias.
O primeiro fato marcante, quando vemos a postura escatológica dos irmãos do século I, é que eles esperavam o glorioso regresso de Cristo já em sua geração. O apóstolo Paul se incluiu entre os vivos por ocasião da volta gloriosa Dele.
Porém, isso não pode ser confundido com aquilo que o preterismo afirma. Pelo contrário, a crença da volta de Cristo já em seus dias estava fundamentada na observação dos sinais que haviam sido profetizados pelo Mestre.
É totalmente compreensível que, diante da perseguição institucionalizada e da figura do imperador romano, o qual chefiava a "quarta besta" descrita por Daniel, da destruição de Jerusalém e do Templo em 70 d.C. e diante dos avisos do Senhor para que eles se mantivessem alertas e vigilantes, nossos irmãos aguardassem a volta do Senhor já em seus dias. Porém, não era uma esperança desprovida de bases.
Aqueles irmãos sabiam, por exemplo, que o evangelho deveria ser pregado a todas as nações, que Pedro deveria ficar velho, que o sinal do Senhor deveria aparecer nos céus, que os dez chifres deveriam ser consolidados, que os sinais do Dia do Senhor deveriam trazer comoção mundial ou que o homem do pecado (anticristo) deveria se manifestar primeiro.
Consequentemente, a esperança da vinda do Senhor, apesar de ser cotidiana, estava atrelada ao cumprimento dos sinais revelados previamente pelo próprio Senhor.
Essa tendência foi mantida até o século III. Quando analisamos os escritos dos principais líderes da Igreja nos primeiros 3 séculos, vemos que nenhum deles acreditava que o Senhor havia retornado em 70 d.C, como afirma o preterismo. Não vemos também nenhuma tendência alegorista ou simbologista por parte deles.
As ideias alegoristas, que lançaram os fundamentos do historicismo, só surgiram a partir do século III, profundamente influenciadas pelos escritos e ensinamentos de Clemente de Alexandria e Orígenes, ambos pertencentes à "Escola de Alexandria", a qual recebeu grande influencia da cultura helênica em seus postulados. Até então, o literalismo e futurismo eram uma constante na interpretação das passagens escatológicas. Veja alguns exemplos:
"Também um outro perigo, que não deixa de ter importância, surpreenderá repentinamente aqueles que falsamente presumem que conhecem o nome do anticristo.
No caso dessas pessoas assumirem um (um número), e o anticristo vier com outro, eles serão facilmente controlados por ele, já que não é o esperado, a respeito do qual deveria haver cuidado.
Essas pessoas, então, deveriam aprender (tal qual realmente é o estado das coisas), a retroceder ou voltar até o número verdadeiro do nome, para que não predigam nomes entre os falsos profetas.
Porém, conhecendo o número exato declarado pela Escritura, que é o de 666, devem esperar, em primeiro lugar, a divisão do reino em dez; logo, no momento seguinte, quando esses reis estejam governando e começando a colocar seus assuntos em ordem e a desenvolverem seus reinos (deixem que eles saibam), para dar a conhecer aquele que virá reclamando o reino para si mesmo e atemorizará aquelas pessoas de quem temos falado, tendo um nome que consiste no número mencionado anteriormente, isso é realmente a abominação da desolação...
Então é mais acertado e menos danoso esperar o cumprimento da profecia do que ficar fazendo adivinhações ou predições acerca dos possíveis nomes que este anticristo possa ter, já que se pode encontrar muitos nomes que possam conter o número mencionado; e a mesma interrogação seguirá sem resolução...
Porém, agora ele indica o número do nome, para que quando este homem venha possamos precaver-nos, estando alertas a respeito de quem ele é...
Porém, quando este anticristo tenha devastado todas as coisas neste mundo, ele reinará por 3 anos e 6 meses, e se sentará no templo de Jerusalém; e quando o Senhor vier nas nuvens dos céus, na glória do Pai, enviará este homem e a seus seguidores ao lago de fogo; restaurando os tempos de bem-estar e justiça no reino, que é, o descanso, o sétimo dia sagrado; e restaurando a Abraão a herança prometida, no reino que o Senhor declarou, no qual muitos virão do este e do oeste e se sentarão com Abraão, Isaque e Jacó" (Extraído de Contra as Heresias, Livro V, XXX)
O texto acima foi escrito por Irineu de Lyons, que viveu viveu entre 120 e 202 d.C. Irineu foi discípulo de Policarpo, bispo de Esmirna, o qual, por sua vez, foi discípulo de João. É muito interessante ver a conotação pós-tribulacionista, literalista e futurista de Irineu.
O texto deixa claro que Irineu cria no aparecimento futuro de homem que seria o anticristo, que os servos do Senhor poderiam identificá-lo, quando fosse o momento, através dos dados fornecidos no Apocalipse, que ele reinaria 3 anos e meio e que se assentaria no Templo, em Jerusalém.
Vale lembrar que, quando o bispo de Lyons escreveu sua obra, o Templo já havia sido destruído há décadas. O ensinamento de Irineu foi afirmado por Hipólito, que viveu entre 170 e 236 d.C:
"Como essas coisas, então, estão no futuro, e como os dez dedos da imagem são equivalentes (e muito) a democracias, e os dez chifres da quarta besta estão distribuídos entre dez reinos, olhemos o tema com mais profundidade, e consideremos estes assuntos à luz clara de uma posição pessoal.
A cabeça de ouro da imagem e o leão caracterizam os babilônios; o peito e braços de prata, e o urso, representam os persas e medos; o ventre e as coxas de bronze, e o leopardo, significa Grécia, que liderou desde os tempos de Alexandre; as pernas de ferro e a besta assombrosa e terrível são uma expressão dos romanos, os quais têm reinado até o presente.
Os dedos dos pés, que são metade barro e metade ferro, e os dez chifres, são emblemas dos reinos que ainda surgirão; o outro pequeno chifre que surge entre eles significa o anticristo no meio deles; a pedra que esmaga a terra e traz julgamento sobre o mundo foi Cristo" (Extraído de Tratado de Cristo e do anticristo, 27 e 28)
Podemos ver o mesmo futurismo, pós-tribulacionismo e literalismo na obra de nosso irmão Cipriano, que viveu entre 200 e 258 d.C:
"Não deixem que nenhum de vocês, irmãos na fé, sejam aterrorizados pelo medo da futura perseguição, ou pela vinda do anticristo...O anticristo está vindo, mas após ele virá Cristo também..." (Extraído da epístola de Cipriano, LV, 7)
Esses são apenas alguns exemplos para mostrar a real concepção escatológica que os irmãos dos primeiros séculos tinham. Todos os escritos desses líderes, entre os séculos I e III, apontam para uma grande tribulação futura, para a manifestação literal do anticristo, a perseguição da Igreja e para a volta triunfal do Salvador logo após essa tribulação, para derrotar o sistema da besta e reinar com os Seus.
Não há nenhuma interpretação alegorista nem nenhuma tentativa de transferir para 70 d.C o cumprimento das passagens relacionadas ao fim dos tempos.
Em Cristo,
Jesiel Rodrigues
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