Prova conclusiva contra a datação preterista do Apocalipse
Em suas tentativas de defender a tese de que o preterismo é a posição apocalíptica bíblica, os seus defensores situam o livro no período do imperador romano Nero, antes de 70 d.C. A razão pela qual eles fazem isso não provém de alguma razão lógica ou histórica proveniente dos Pais da Igreja – todos eles afirmaram que foi escrito no final do reinado de Domiciano, em 95 d.C – mas sim por serem forçados a crerem em tal coisa, ou senão toda a teologia preterista se perde. Isso porque o Apocalipse é uma visão (revelação) que João teve na Ilha de Patmos (Grécia), sobre acontecimentos que iriam acontecer no futuro.
Ele escreve sobre as coisas que “hão de acontecer” (Ap.1:1), ou seja, sobre uma tribulação futura que assolaria a humanidade (e que para os preteristas se resume a Jerusalém, em 70 d.C). Mas como podemos derrubar definitivamente essa datação preterista do livro? Embora nós tenhamos inúmeros registros históricos conservados pelos Pais da Igreja – desde Irineu e Justino em diante – isso parece não ser suficiente para eles. Aparentemente, é necessário algo mais. Portanto, irei mostrar aqui uma evidência conclusiva de que o livro não foi escrito antes de 70 d.C. E ela está em Apocalipse 2:13, que diz:
“Sei onde você vive, onde está o trono de Satanás. Contudo, você permanece fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé em mim, nem mesmo quando Antipas, minha fiel testemunha, foi morto nessa cidade, onde Satanás habita” (Apocalipse 2:13)
“Ok” – você pode pensar – “mas como este versículo prova que o Apocalipse não foi escrito antes de 70 d.C”? Isso nós descobrimos quando analisamos a época que este mártir da Ásia, Antipas, foi morto. Aqui João está escrevendo cartas direcionadas às sete igrejas da Ásia. Essa carta foi direcionada aos cristãos de Pérgamo. Nela, João faz menção de um acontecimento passado que certamente ainda estaria conservado na mente dos cristãos daquela cidade, que foi o martírio de um de seus maiores líderes, Antipas, que foi bispo da cidade de Pérgamo.
Acontece que, se João escreveu antes de 70 d.C e relata a morte que já tinha acontecido de Antipas, isso significa obrigatoriamente que – de acordo com a datação preterista – esse Antipas tem que ter morrido antes de 70 d.C, evidentemente. Porém, a tradição histórica da Igreja em seu testemunho unânime (inclusive por fontes católicas) em uma só voz proclama que Antipas foi martirizado durante o reinado de Domiciano, e não de Nero!
Aqui nós temos que fazer uma pequena pausa para uma observação histórica. Se João escreveu antes de 70 d.C, então ele escreveu na época do imperador romano Nero, que reinou em Roma entre 13 de Outubro de 54 até 9 de Junho de 68. Porém, ele relata o martírio de Antipas que havia ocorrido alguns anos antes. Portanto, Antipas deve, pela lógica preterista, ter sofrido o martírio durante o reinado de Nero. Entretanto, o que vemos é que o consenso unânime entre os Pais da Igreja, os Doutores da Igreja Católica e os historiadores, conforme a tradição da Igreja, é que Antipas não foi martirizado durante o reinado de Nero, mas sim de Domiciano.
Ora, Domiciano reinou em Roma entre 14 de Setembro de 81 até 18 de Setembro de 96. Portanto, se Antipas morreu durante o reinado de Domiciano e João escreveu o Apocalipse depois disso (citando a morte de Antipas que já tinha ocorrido), então logicamente João escreveu bem depois de 70 d.C! Ele necessariamente escreveu depois de 81 d.C, quando Domiciano começou a reinar em Roma, perseguir os cristãos e matar Antipas. As provas disso são abundantes, tanto em fontes evangélicas, como também em fontes da Igreja Ortodoxa e da Igreja Romana. Vejamos algumas delas.
-Na Igreja Ortodoxa:
O principal site da Igreja Ortodoxa em português (http://ecclesia.com.br/) faz uma extensa biografia da vida de Antipas, e não deixa de narrar que foi durante o reinado de Domiciano que começou a perseguição aos cristãos, quando posteriormente Antipas derramou seu sangue em martírio:
“O Santo e glorioso mártir Antipas foi contemporâneo dos apóstolos que o tinham posto à frente da Igreja de Pérgamo. Na época da perseguição de Domiciano (c. 83), mesmo já sendo de idade avançada, o santo bispo foi levado à prisão pelos pagãos por negar-se a oferecer sacrifícios aos ídolos. O Santo foi então arrastado diante do governador que havia antes tentado persuadi-lo a renegar sua fé em Cristo, dizendo que a adoração aos ídolos era mais antiga e, portanto, mais respeitável do que aquela nova religião pregada por pescadores e gente humilde.
Santo Antipas respondeu lembrando a história de Caim que, embora tenha sido antepassado da humanidade, era, no entanto, abominável e desprezível por ter assassinado seu irmão. Que, mesmo as crenças dos helênicos, também muito antigas, não eram menos desprezível para os que receberam a revelação da plenitude da Verdade nos últimos tempos. Ao ouvir estas palavras, o governador e os pagãos encheram-se de ódio e o jogaram numa fornalha ardente.
De lá, Santo Antipas elevou uma fervorosa oração ao Senhor, dando graças por sofrer por amor e testemunhar assim que o amor de Deus é mais forte que a morte. Assim, entregou sua alma nos braços do Senhor e seu corpo foi sepultado na igreja de Pérgamo. De seu túmulo, um suave odor de bálsamo exalou durante anos, produzindo excelentes efeitos terapêuticos para o consolo dos cristãos na cidade e muitos peregrinos que para lá acorriam de todos os lados, para venerar a memória do santo” (Ecclesia – Arquidiocese Ortodoxa Grega)
-Na Igreja Evangélica:
Os sites evangélicos também não deixam de ressaltar o fato de que Antipas, bispo de Pérgamo, foi morto durante o reinado de Domiciano, em 92 d.C, sendo assado vivo por não renunciar a sua fé em Cristo:
“Pouco se sabe a respeito de Antipas. A Bíblia o menciona uma única vez no Livro de Apocalipse. Nele, Jesus o desceveu como Sua Testemunha e Seu fiel. e que mesmo em face da morte decidiu que não negaria o Filho de Deus. No entanto, a história e a tradição nos revelam outros detalhes: Ele era o líder religioso da Igreja de Pérgamo e por causa de seu testemunho foi perseguido e morto no ano de 92 d.C. Segundo a tradição, Antipas foi supostamente assado vivo em um touro oco, em tamanho real, de bronze, que tinha uma fogueira em seu ventre, porque recusou a renunciar à sua fé em Cristo Jesus”(Caminhos e Veredas)
-Em outras fontes:
Embora não haja nenhuma Enciclopédia em português que faça uma biografia de Antipas, a Enciclopédia Livre Online da Wikipédia, em inglês, faz uma biografia deste mártir baseando-se nos dados fornecidos pela própria Igreja Católica (como fonte), e confirma que ele foi martirizado durante o reinado de Domiciano, em 92 d.C:
“Many Christian traditions believe Saint Antipas to be the Antipas referred to in the Book of Revelation (Revelation 2:13) as the "faithful martyr" of Pergamon, "where Satan dwells". According to Christian tradition, John the Apostle ordained Antipas as bishop of Pergamon during the reign of the Roman emperor Domitian. The traditional account goes on to say Antipas was martyred in ca. 92 AD by burning in a brazen bull-shaped altar used for casting out demons worshiped by the local population. There is a tradition of oil ("manna of the saints") being secreted from the relics of Saint Antipas. On the calendars of Eastern Christianity, the feast day of Antipas is April 11” (Antipas of Pergamum)
-Na Igreja Romana:
Como se tudo isso não bastasse, a própria Igreja Católica Romana confirma em suas fontes oficiais de que, de acordo com a sua tradição, Antipas foi martirizado durante o reinado do imperador Domiciano. A própria Enciclopédia Católica afirma expressamente isso nas seguintes palavras:
"Following is a list of other saints from whose relics or sepulchres oil is said to have flowed at certain times: 1) St. Antipas, Bishop of Pergamum, martyred under Emperor Domitian” (“Oil of Saints”, in Catholic Encyclopedia, "Acta SS.," April, II, 4)
O site New Advent, que é católico e possui o maior e mais completo compêndio de obras patrísticas e de outros documentos históricos importantes na história da Igreja, também fala sobre Antipas baseado nos dados fornecidos pela tradição da Igreja Romana encontrados na Enciclopédia Católica e diz:
Portanto, vemos que é um consenso unânime entre todas as igrejas de que historicamente Antipas foi martirizado durante o reinado de Domiciano, aproximadamente em 92 d.C. Isso é confirmado pela tradição da Igreja Ortodoxa (território onde Antipas havia sido martirizado, em Pérgamo), confirmado também pela tradição da própria Igreja Romana que confirma essa data, e confirmada também pelos evangélicos e pelos historiadores eclesiásticos da Igreja primitiva.
Diante de todas essas provas abundantes, apenas alguém extremamente tendencioso que iria negar todas essas evidências esmagadores e dizer que estão todas erradas, e ainda por cima situar a morte de Antipas não durante o reinado de Domiciano, mas durante o reinado de Nero, o que não é confirmado por absolutamente nenhuma fonte histórica de ordem religiosa nenhuma!
Seria negar a validade da tradição histórica da própria Igreja deles, seria colocar em cheque as obras oficiais da Igreja Católica e seria um golpe de morte em cima da autenticidade da tradição, pois, se a tradição pôde errar em termos tão simples quanto dizer a época em que um conhecido bispo da Ásia morreu, muito mais poderia errar em termos teológicos complicados e divergentes. Se todas essas afirmações sobre Antipas estão erradas, então não podemos confiar em absolutamente nenhuma informação histórica de que temos certeza hoje.
Os católicos não colocam dúvidas sobre a época do martírio de Inácio, Policarpo e outros mestres da Ásia que viveram aproximadamente na mesma época, então por que deveriam questionar a validade do mesmo testemunho histórico relacionado à Antipas? Como vemos, apenas o completo desespero em conciliar o preterismo com a História da Igreja que poderia cegar alguém a tal ponto de negar todas as tradições históricas a este respeito (inclusive da sua própria Igreja!) para situar em um tempo totalmente remoto e sem confirmação nem apoio nenhum, apenas para salvaguardar uma doutrina herética que entra em total conflito com a Bíblia e com a história eclesiástica.
Portanto, do ponto de vista histórico, o preterismo não passa de um conto de fadas muito bem maquiado para conseguir sobreviver mesmo diante de tantas esmagadoras provas históricas e bíblicas que o desmentem inteiramente, e que seus adeptos continuam ignorando sistematicamente para conseguirem manter este engodo de pé.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
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