lenda mais propagada historicamente pelos preteristas é a de que Nero é o anticristo, ou, mais precisamente, a besta do Apocalipse, e que ele seria o “666” que João afirmou ser o “número de um homem” (Ap.13:18). De tanto ouvir repetidas vezes preteristas repetirem essa mentira à exaustão, decidi criar este artigo para acabar de uma vez com todas com essa enganação. Em primeiro lugar, é necessário dizer que “Cezar Nero” não dá “666” em língua nenhuma. Para fazer com que Nero some “666”, os preteristas lançam mão de um verdadeiro malabarismo e entorpecimento mental que só serve para enganar os mais incautos. Irei explicar algumas dessas manobras comumente usadas por eles:
1º Pegue o nome “Cezar Nero” em grego, porque em latim não dá certo.
2º Depois, translitere para o hebraico, porque se ficar em grego também não dá certo.
3º Ao transliterar para o hebraico, mantenha nrwn em vez de NRW, mas não faça o mesmo em “César” (qysr em vez de QSR), porque se você usar de critério sua manipulação vira lixo.
4º Em seguida, acrescente um “n” no final do nome “Nero”, porque se deixar a forma oficial do nome “Nero” também não dá certo.
5º E, por fim, ignore as regras de numerologia judaica (gematria), porque, se ela for levada em consideração, a sua manobra também não terá sucesso.
Então, a manobra consiste em tentar passar tudo isso para o leitor, mas sem ele perceber. O preterista tem que enfiar goela abaixo que Nero dá 666, não tem que se preocupar em explicar que tipo de manobras que foram usadas para se chegar a este resultado. Se o preterista conseguir disfarçar tudo direitinho, ele terá sucesso e conseguirá ter enganado mais um. Mas se alguém for a fundo pesquisar sobre o tema, irá descobrir todas essas manobras e postar em um site como o Heresias Católicas.
Destruindo a lenda ponto a ponto:
1º NERO NÃO SOMA 666 EM GREGO
O primeiro de tudo que devemos informar ao leitor é que Cezar Nero não soma 666 em grego, soma 1005, como os próprios preteristas admitem. Kenneth L. Gentry Jr, um ferrenho defensor da tese de que Nero é o anticristo (666) tendo por base a transliteração ao hebraico, também confirma que, em grego, o nome soma 1005 e não 666:
“A grafia grega do nome Nero tinha o valor de 1005” (O Número da Besta, Kenneth L. Gentry Jr, Cap.3)
Portanto, a lenda de que Nero é o “666” não provém do grego, mas da transliteração do grego para o hebraico, onde, segundo os defensores da tese, somaria “666” (veremos mais sobre isso mais adiante). Mas, apenas aqui, já vemos o primeiro problema para os preteristas: por que João iria codificar Nero transliterado ao hebraico, se ele escrevia o Apocalipse em grego e para pessoas de fala grega?
Todos os manuscritos bíblicos do Apocalipse que temos estão na língua grega, e não no hebraico. E o livro de João foi destinado, em primeiro lugar, não para judeus nem para habitantes na Judeia, mas para cristãos na Ásia Menor:
“Que dizia: Eu sou o Alfa e o Omega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodiceia” (Apocalipse 1:11)
Perguntinhas básicas aos preteristas:
Os moradores de Éfeso falavam hebraico? Eram judeus?
Os moradores de Esmirna falavam hebraico? Eram judeus?
Os moradores de Pérgamo falavam hebraico? Eram judeus?
Os moradores de Tiatira falavam hebraico? Eram judeus?
Os moradores de Sardes falavam hebraico? Eram judeus?
Os moradores de Filadelfia falavam hebraico? Eram judeus?
Os moradores de Laodiceia falavam hebraico? Eram judeus?
A resposta a essas perguntas é: não, não, não, não, não, não e não! Os moradores da Ásia Menor não eram judeus em sua maioria, e a fala predominante nessas regiões era a língua grega, não hebraica. É óbvio que existiam judeus morando nessas regiões, assim como existiam em qualquer outra parte do mundo, mas o que predominava nessa região não era o judaísmo nem a língua hebraica, mas o grego. A grande maioria dos destinatários do livro sequer conhecia o hebraico, e, portanto, não iriam conseguir transliterar o nome “Nero” do grego para o hebraico para depois somarem. Isso porque eles trabalhavam numericamente com o grego e não com o hebraico. O próprio professor católico Felipe Aquino, da Canção Nova, disse:
“É bom lembrar que o Apocalipse foi escrito no final do séc. I (95 d.C), em grego, e tinha como destinatário as comunidades cristãs da Ásia Menor (Ap 1,4; 2,1-3,22) que falavam o grego”
À época em que João escrevia o Apocalipse (96 d.C), o Cristianismo já havia se disseminado pelo mundo e a maioria dos cristãos eram não-judeus, ou seja, gentios. A própria Bíblia atesta a resistência dos judeus a aceitarem as boas novas do evangelho e como que os gentios aceitavam a mensagem que os judeus rejeitavam:
“Discordaram entre si mesmos e começaram a ir embora, depois de Paulo ter feito esta declaração final: Bem que o Espírito Santo falou aos seus antepassados, por meio do profeta Isaías: Vá a este povo e diga: Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os curaria. Portanto, quero que saibam que esta salvação de Deus é enviada aos gentios; eles a ouvirão! Depois que ele disse isto, os judeus se retiraram, discutindo intensamente entre si” (Atos 28:25-29)
“Que diremos, então? Os gentios, que não buscavam justiça, a obtiveram, uma justiça que vem da fé; mas Israel, que buscava uma lei que trouxesse justiça, não a alcançou” (Romanos 9:30-31)
Ou seja: a Igreja Cristã, no final do primeiro século d.C, era muito mais constituída por gentios (que aceitaram a mensagem do evangelho) do que por judeus (que a rejeitaram). Isso explica o porquê que todo o Novo Testamento foi escrito em língua grega: porque era a língua predominante entre os gentios. Paulo, ao escrever para as igrejas, usava sempre o grego, nunca o hebraico. A mesma coisa se aplica aos evangelistas, a Tiago, a Pedro, a Judas e ao próprio João. Portanto, nada mais justo e óbvio que esse mesmo João, que escreveu em grego e para pessoas de fala grega, preferisse manter o original à obrigar seus leitores a transliterarem o número da besta. Como Nero não dá 666 mas 1005 em grego, segue-se logicamente que não é Nero o anticristo.
2º REFUTANDO OBJEÇÕES AO PONTO 1
Uma forma comum pela qual os preteristas respondem ao ponto 1 é de que, se João escrevesse “1005” para a besta (i.e, se mantivesse o grego), isso iria fazer com que o nome de Nero ficasse muito óbvio, uma vez que era conhecido que Nero somava 1005 em grego, e, por isso, João preferiu passar para o hebraico, para “camuflar” e não deixar o nome de Nero tão exposto, evitando ataques contra os cristãos. Este argumento é duplamente falho por três razões.
A primeira é que os cristãos já estavam passando por duras perseguições nas mãos de Domiciano, que era tão cruel quanto Nero, simplesmente por se recusarem a adorar ao imperador. Portanto, os cristãos não tinham medo de encarar o “tirano” de Roma e se oporem a ele, não teriam receio de admitir abertamente que Nero era o anticristo se ele assim fosse. Da mesma forma que Sadraque, Mesaque e Abede-Nego se opuseram contra o rei da Babilônia mesmo sob a ameaça de serem lançados à fogueira, os cristãos do século I não tinham medo da morte (Ap.12:11) e diziam a verdade abertamente, sem rodeios por medo de algum imperador tirano reinando em Roma. Além disso, pela perseguição que já sofriam, de modo algum ela seria “suavizada” simplesmente por não dizerem que Nero era um anticristo.
Em segundo lugar, João escrevia em 96 d.C, no final do reinado de Domiciano, e Nero havia sido morto em 68 d.C, ou seja, quase trinta anos antes. Da mesma forma que falar mal de um presidente do Brasil que já morreu há trinta anos não é algo muito significativo ao governo atual, assim também falar de um imperador já falecido há muito tempo não teria um impacto tão negativo nos dias de Domiciano, o que seria muito diferente se ocorresse nos próprios dias de Nero. Isso é admitido até mesmo pelo professor católico e preterista Carlos Martins Nabeto, no site “Agnus Dei”:
“E, mesmo que descobrissem o real significado do número 666, ainda assim estaria o apóstolo se referindo a um imperador já falecido e, portanto, sem muito significado para as autoridades governantes”
Desta forma, ocultar o nome de Nero por meio da transliteração ao hebraico não seria algo nem um pouco necessário.
E, em terceiro lugar, o principal motivo pelo qual João não precisava ocultar o nome Nero passando-o ao hebraico ocultamente por medo de represálias é porque havia outros autores da época que faziam a mesma coisa de forma bem natural, como podemos ver em Suetônio, que fez a seguinte sátira grega usando o nome de Nero e o valor numérico de suas letras no grego:
“No meio da sua história latina, Suetônio um exemplo de uma sátira grega que circulou logo após o incêndio em Roma, que correu em 64 d.C: ‘Neopsephon Neron indian metera apektine’. A tradução da sátira é: ‘Um novo cálculo: Nero sua mãe assassinou’. J. C. Rolfe observa na edição Loeb Classical Library das obras de Suetônio que ‘o valor numérico das letras gregas no nome de Nero (1005) é o mesmo do restante da sentença; assim, temos uma equação: Nero = o assassino de sua própria mãe’”(O Número da Besta, Kenneth L. Gentry Jr, Cap.3)
Notem que Suetônio afirmou explicitamente que Nero assassinou a sua própria mãe, de forma explícita, e fazendo um trocadilho com os valores numéricos em grego. Ele não precisou ocultar este fato passando ao hebraico ou a outra língua por medo das autoridades romanas, disse isso bem claramente, chamando Nero de assassino. Então, se Suetônio pôde ter chamado Nero de assassino da própria mãe de forma clara, por que João não poderia ter feito o mesmo de forma oculta, apontando a Nero o título de “anticristo”?
Na verdade, Nero não era bem visto pelos próprios romanos. Ele era maluco, botou fogo na própria Roma, assassinou sua mãe e outros vários familiares seus, foi tirado do poder pelos próprios romanos em um golpe de estado de vários governantes no qual foi forçado a suicidar-se, era mal visto em todos os testemunhos históricos de escritores daquela época, teve sua morte celebrada pela própria Roma e festejada pelos senadores, nobreza e classe alta do Império. Portanto, se as próprias autoridades romanas odiavam Nero e o tiraram do poder, como poderiam armar uma represália a um cristão que falasse mal de um imperador que já era mal visto pelos próprios romanos? De fato, tal coisa seria tão ameaçadora na época quanto alguém no presente século falando mal a Lula sobre FHC.
Portanto, a tese preterista de que João camuflou o nome de Nero codificando-o à numerologia judaica com medo das autoridades romanas não passa de pura lenda preterista, sem pé e nem cabeça.
3º CEZAR NERO OU CEZAR NERON?
É bem conhecido de todos que o nome oficial de Nero era Nero, e não Neron, com um “n” no fim. Neron é uma forma grega de se falar deste imperador, mas este imperador era romano, e não grego. Roma é uma cidade da região Lácio (que se escrevia Latio, mas depois evoluiu para Lácio), cuja língua do Latio era o latim. Portanto, a forma oficial do nome deste imperador romano não era a forma grega (Neron), mas sim a latina (Nero). Não é a toa que o título deste artigo é “Cezar Nero é a besta do Apocalipse?”, ao invés de “Cezar Neron é a besta do Apocalipse?”. Nero é chamado em todo lugar de Nero porque é a forma oficial do seu nome, originalmente latino. O “n” é um acréscimo grego ao nome de Nero, que é necessário para dar o “666” quando passado ao hebraico, porque sem ele o resultado é “616”, como podemos constatar facilmente:
Nun = 50
Resh = 200
Waw = 6
Qoph = 100
Samech = 60
Resh = 200
Resultado = 616
Para fazer com que o nome “Nero” dê “666” quando passado ao hebraico eles tem que adicionar novamente a letra “n” (nun) no final, somando mais 50 e perfazendo o 666. Alguém poderia alegar que, como o Apocalipse foi escrito em grego, a besta deveria ser levada em consideração em grego até mesmo para pessoas que não fossem gregas, e não na forma oficial. Em resposta a isso, devemos salientar que a forma oficial de um nome é mantido ao invés de ser transliterado quando passado a outra língua.
Por exemplo, ninguém chama John Lennon de “João Lennon”, Peter Crouch de “Pedro Crouch”, James Brow de “Tiago Brow”, ou Mark Zuckerberg de “Marcos Zuckerberg”. O nome original de uma pessoa é mantido mesmo quando passado a uma outra língua. Por isso não é sem razão que conhecemos Nero como Nero e não como Neron! Cezar Neron era uma forma relativamente rara do nome de Nero, não era a mais comumente utilizada e nem a forma oficial dele. Se a besta fosse originalmente da Grécia, o justo seria manter o nome oficial em grego; mas, como estamos falando de Nero, imperador romano, o mais correto seria levar em conta o latim.
4º A GRAFIA UTILIZADA PELOS PRETERISTAS
Além disso, quem passou do grego para o hebraico usou de muito pouco critério e bom senso, pois transliterou para nrwn QSR (que, segundo eles, daria 666 em hebraico), que era apenas uma grafia alternativa para Nero, que também pode ser transliterado ao hebraico como NRW no lugar de nrwn formando “Nero”, e como qysr no lugar de QSR formando “Cezar”. Tanto em um caso como no outro, o nome de Cezar Nero passado ao hebraico daria outros resultados diferentes de 666. O mais correto seria aplicar NRW QSR ou nrwn qysr, podendo até mesmo ser transliterado por NRW qysr. Em três dos quatro casos o nome de Cezar Nero não dá 666, sendo que em apenas um único (que obviamente é o que os preteristas utilizam) é que a soma segundo eles daria 666.
- Com NRW QSR o valor dá 616.
- Com nrwn qysr o valor dá 676.
- Com NRW qysr o valor dá 626.
Como bem podemos perceber, eles fazem uso de uma única forma que, para eles, dá 666, ignorando outras três grafias alternativas que dão valores diferentes, para mais ou para menos. Em outras palavras, se no Apocalipse tivesse escrito que o número da besta é 616, eles estariam fazendo uso da primeira grafia; se dissesse que é 676, eles estariam fazendo uso da segunda grafia; se dissesse 626, eles estariam fazendo uso da terceira grafia; se dissesse 616, estariam fazendo uso da grafia latina; se dissesse 1005, não transliterariam para o hebraico e deixariam no grego mesmo, e por aí vai. É isso o que os preteristas escondem de você, para fazer parecer que a única possibilidade para Nero é 666.
5º OUTROS ARGUMENTOS CONTRA NERO
Devemos ainda levar em consideração outros fatores que vão muito além da mera análise de Apocalipse 13:18. Afinal, se Nero é o anticristo, isso significa que o todo das Escrituras deve ser compatível com essa verdade. Mas será mesmo que a Bíblia atesta ou confirma que Nero é um possível candidato a anticristo? Segundo o apóstolo Paulo, não. Isso porque ele atesta que o anticristo iria se assentar no templo de Deus, dizendo ele mesmo ser Deus:
“O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (2ª Tessalonicenses 2:4)
A verdade: Nero nunca sequer pisou em Jerusalém, muito menos no templo!
Além disso, Paulo afirma que o anticristo seria morto por Jesus na segunda vinda de Cristo:
“E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda” (2ª Tessalonicenses 2:8)
A verdade: Nero morreu antes da invasão de Jerusalém pelos exércitos romanos, ou seja, antes de 70 d.C (ele morreu e 68 d.C, dois anos antes). Sendo assim, ele não morreu na volta de Jesus, que os preteristas afirmam ter acontecido após a destruição de Jerusalém e do templo. Mais um ponto conclusivo contra a tese de que Nero é a besta a que João se refere.
Além disso, João diz que essa besta colocaria uma marca (666) em todos os habitantes da terra:
“E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome” (Apocalipse 13:16-17)
A verdade: os judeus NUNCA foram marcados com algum “666” na mão direita ou na testa (você pode conferir mais sobre isso neste meu artigo).
Além disso, o anticristo teria uma imagem sua que seria colocada no templo de Jerusalém (os preteristas interpretam a frase “habitantes da terra” como “moradores de Jerusalém”):
“E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia. E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta” (Apocalipse 13:14-15)
A verdade: nunca houve uma imagem de Nero no templo de Jerusalém nem em parte alguma da Judeia, muito menos uma imagem falante.
Poderia passar o dia inteiro aqui passando provas inequívocas de que Nero não se encaixa de forma nenhuma com a descrição bíblica sobre o anticristo. Ele certamente tinha um perfil adequado para uma besta (no sentido de ser um tirano cruel contra os cristãos), mas não era a besta especificamente (pois não corresponde aos diversos relatos bíblicos acerca do anticristo).
6º O ARGUMENTO CONCLUSIVO: A GEMATRIA HEBRAICA
Até aqui já conferimos inúmeras evidências de que Nero não pode ser a besta do Apocalipse (666), porque:
• A forma oficial do nome Nero era latina e não grega, e em latim soma-se 616, e não 666, ao transliterar ao hebraico.
• Mesmo se levássemos o grego em consideração e não a forma oficial do nome de Nero, teríamos quatro possibilidades diferentes para Cezar Nero, das quais apenas uma (segundo os preteristas) é que somaria 666 se transliterado para o hebraico.
• Porém, mesmo se João escolhesse o grego e ainda que pensasse exatamente na grafia proposta pelos preteristas, nada indica que ele desejasse uma transliteração ao hebraico, o mais óbvio fosse que desejasse a codificação do próprio grego, uma vez que escrevia para gentios que falavam grego e que não haveria qualquer razão para evitar citar Nero de forma mais clara sendo que Nero era odiado pelas próprias autoridades romanas.
• Sendo assim, Cezar Nero em grego (sem a codificação ao hebraico) daria 1005, novamente longe dos 666 sonhados pelos preteristas.
Então, somente do que já constatamos até aqui, vimos que, para os malabarismos preteristas em torno de Nero darem certo, é necessário que:
• João tenha pensado em Nero como nome grego e não na forma original latina, que era a mais comumente usada desde aqueles dias e até os dias de hoje.
• João tenha tido a intenção de que seus leitores passassem ao hebraico e não que ficassem no grego, mesmo sem qualquer razão séria para isso e mesmo escrevendo a crentes na Ásia Menor, em sua grande maioria constituído de gentios (não-judeus), que falavam grego, e não hebraico, e que dificilmente conseguiriam fazer tal transliteração.
• Além disso, João certamente deveria ter em mente o nome nrwn QSR e não alguma outra das quatro possibilidades para o nome de Nero, e que daria outros resultados.
Algum preterista poderia chegar até aqui na leitura, e, incrédulo como sempre, ainda apostar que tudo isso aconteceu para Nero dar o 666 escrito no Apocalipse. O que eles não contavam, porém, é que as próprias contas deles esbarram na gematria hebraica. A conta deles, levando em consideração o nrwn QSR, ficaria assim:
Nun = 50
Resh = 200
Waw = 6
Nun = 50
Qoph = 100
Samech = 60
Resh = 200
Letra
|
Nome da letra
|
Transcrição
|
Valor Numérico
|
|
Aleph
|
A
|
1
|
|
Beit
|
B, V
|
2
|
|
Gimel
|
G, Gh
|
3
|
|
Daleth
|
D, Dh
|
4
|
|
Heh
|
H
|
5
|
|
Vau ou wau
|
O, U, V, W
|
6
|
|
Zayin
|
Z
|
7
|
|
Cheth ou Het
|
Ch ou H
|
8
|
|
Teth
|
T
|
9
|
|
Yod
|
I ou J, Y
|
10
|
|
Kaph
|
K, Kh
|
20 - 500
|
|
Lamed
|
L
|
30
|
|
Mem
|
M
|
40 - 600
|
|
Nun
|
N
|
50 - 700
|
|
Samekh
|
S
|
60
|
|
Ayin
|
Aa, Ngh
|
70
|
|
Peh ou Feh
|
P, F
|
80 - 800
|
|
Tzaddi ou Sadé
|
Tz
|
90 - 900
|
|
Quph
|
Q
|
100
|
|
Resh
|
R
|
200
|
|
Sin ou Shin
|
S, Ch, Sh
|
300
|
|
Tau
|
T, Th
|
400 ...
|
Qualquer um pode fazer as contas e ver que realmente o resultado é 666. O que os preteristas não contavam, porém, é que existem diversas regras na gematria hebraica que eles desconhecem completamente e que invertem totalmente a situação. De acordo com as regras de numerologia judaica, conhecida como gematria, quando a letra Nun aparece no final de uma palavra, é conhecido como “Final”, e assume o valor de 700. Desta forma, o nrwn QSR somaria 1316, e não 666:
Nun = 50
Resh = 200
Waw = 6
Nun = 700 ← aparece no final de uma palavra e assume valor de 700
Qoph = 100
Samech = 60
Resh = 200
Outros sites católicos trazem “NVRN RSQ”. Esse “n” que aparece na primeira e na quarta letra é o correspondente ao Nun do hebraico. Quando ele aparece no final de uma palavra, toma o valor de 700, e é exatamente o mesmo que ocorre em Neron Cezar.