A necessidade de consciência política da Igreja brasileira

É preciso aceitar os fatos, o longo período de ditadura militar pelo qual nosso país passou deixou marcar indeléveis em toda a nossa formação politica. Desde o simples fato de escolher um governante até mesmo em entender que os tais eleitos são na verdade agentes do povo e não controladores do mesmo.

Junte-se a isso nossa herança colonial que nos faz sempre pensar em sobrevivência antes de vida digna, temos então o retrato de um país que perdeu o rumo por não saber ao certo reconhecer a rota que tomou.

E a igreja brasileira nisso tudo? Fomos durante muito tempo omissos, como para muitos crentes o Reino de Deus nos bastava, muitos acreditavam que a justiça na terra não era da conta dos seguidores de Jesus. Mas a questão é que sem fome e sede de justiça não se pode ser sal e luz do mundo e nem muito menos dar amostras do Reino que começa em nós.

Chegou então o momento em que o silêncio da igreja foi quebrado, pastores começaram a usar seus púlpitos de onde deveriam proclamar a santa Palavra de Deus para darem voz a candidatos cristãos ou não, palanques armados em cultos onde o rebanho ouvia atentamente aquele que segundo o líder da congregação era o melhor para o país, pois era resposta de Deus para suas orações. Assim currais eleitorais cheio de ovelhas não politizadas foram armados irresponsavelmente proporcionando escândalos e formando uma bancada evangélica que em sua maioria causa mais constrangimentos e vergonha do que manifestam o Deus que afirmam crer.

Houve também um seguimento da igreja que enveredou pelo discurso da esquerda e outro que se arrefeceu pela direita. Mas politica no Brasil ainda remete a mesma forma de se ver os times de futebol onde cada um defende o seu independente dos maus resultados, a paixão fala sempre mais alto. Assim vimos irmãos tentando fundamentar biblicamente suas crenças politicas , e o mais constrangedor, ambos buscando ajustar textos sagrados a partir de suas ideologias socialistas ou comunistas.

Creio que necessitamos urgentemente de uma conscientização politica, precisamos ler a nossa história e buscar compreender onde deixamos essa embarcação sair da rota e trazê-la de volta a um estado democrático que compreende que o poder do voto não é o de dar direitos e poderes para que uma minoria tenha plena liberdade de corrupção, mas de se fazer representar por aqueles que por nós são eleitos compreendendo que estes assumem uma responsabilidade da qual devem ser regularmente cobrados por ela.

No caso da igreja que é composta por cidadãos do Reino de Deus e que ainda assim não deixam de ser brasileiros, cabe-nos seguir o caminho da justiça, onde devemos pedir em oração “venha a nós o vosso Reino” tornando isto possível pela atitude sempre em prol do bem comum, onde o voto não seja em hipótese alguma instrumento para regalias pessoais ou institucionais, e a consciência do papel politico não seja rejeitada com a alegação de uma espiritualidade que nos isenta das necessidades do mundo em que estamos.